quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Qual o real valor da vida? II


        Desculpem pelo abandono do meu blog. Não dediquei tempo para escrever novos posts, mas estou voltando com algumas novas idéias. Hoje, durante uma caminhada para o cabeleireiro, refleti sobre uma discussão de um poste anterior (Qual o real valor da vida?). A vida não me parece ter um valor, ou um sentido, ou um significado, intrínseco próprio (usarei todos estes termos como sinônimos aqui). Acredito que nós quem atribuímos valor à vida e que acreditar em algo faz parte disso.


        Lembrei de um filme antigo de ficção científica: O Soldado do Futuro, dirigido por Paul Anderson e com Kurt Russell no papel principal. O Kurt interpretou um soldado que foi treinado, desde criança, para não ter sentimentos e não hesitar quando lhe forem dadas ordens.  Assim, cumprir as ordens do seu coronel era o único sentido de sua vida. Até que em um não tão belo dia, ele foi supostamente considerado morto em combate e abandonado em um planeta desconhecido, um verdadeiro planeta “lixão”. Jogado a mercê do destino e sem um sentido para viver, ele vagou pelo planeta até encontrar outras pessoas. Com elas, ele encontrou um novo sentido para viver. Não por causa daquelas pessoas em especial, não porque ele era um cara bonzinho que ajuda os desprotegidos, mas porque ele precisava acreditar em algo para dar sentido a sua vida. Talvez esse algo tenha sido a guerra, talvez uma vingança ou mesmo ter novos sentimentos depois de tanto tempo.

        Sou um ateu, descrente de quaisquer entidades sobrenaturais. Como cientista, flerto com o ceticismo, mas penso que é da natureza humana ter crenças. Algo em que acreditar para buscar um sentido para a vida. Acredito no respeito mútuo, no carinho, nas discussões acaloradas, nas paixões que me consomem, no prazer das noites entregue ao amor, na solidariedade, na coerência, em uma meritocracia por esforço, nas companhias que compartilho alegrias e tristezas, nos exercícios que afogam agonias, no poder de mudar minhas atitudes sempre, na capacidade da ciência de entender como o mundo funciona, no cheiro inebriante que acalma minhas noites e no amor de uma companheira especial para viver. Acredito em muitas outras coisas que dão sentido a minha vida. Elas certamente não são certezas para mim. Sei que elas podem me decepcionar, mas são minhas crenças. Eu as escolhi como fonte do significado da minha vida. Quem poderá dizer que estou errado? Minhas crenças, como as de qualquer outro homem livre, estão além do bem e do mal.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Hum...



"Loucura e inocência são tão parecidas, que a diferença, embora essencial, mal se percebe."
(William Cowper)

Sobre o Suicídio

      "O suicídio é uma fuga ou um fracasso", disse o filósofo Jean Paul Sartre. Será? O suicídio é sempre algo ruim? Esse é um tema delicado de se tratar. Muitas religiões vêem o suicídio como um dos crimes mais hediôndos cometidos contra a vida. Na tradição judaico-cristã, essa é uma passagem direta para o inferno, sem direito à discussão no purgatório.

Os suicidas de Gustave Doré
      Em A Divina Comédia, Dante coloca os suicidas no sétimo círculo, dentro do segundo subcírculo, onde se encontra o Vale dos Suicidas. Condenados a viver na forma de árvores, são constantemente torturados pelas Hárpias. Estas criaturas, metade mulher, metade ave, arrancam pequenos pedaços daqueles que desprezaram o próprio corpo.

      Não concordo com essa visão tradicional do suicídio. A vida pode ser vista como um grande jogo, onde buscamos fazer bons trabalhos e nos divertirmos. Mas, quando tudo a nossa volta fica desprovido de significado, "a idéia do suicídio é uma grande consolação" (Nietzsche). Poder decidir quando será o Game Over é um grande privilégio. O filósofo Emil Cioran uma vez disse: "só vivo porque posso morrer quando quiser: sem a idéia do suicídio já teria me matado a muito tempo”.

Harakiri
      Em outras religiões, o suicídio não é visto como um ato pecaminoso. Para os antigos samurais, era visto como um ato de honra. O Harakiri, que significa corte estomacal, era um ritual usado para recuperar a honra do samurai ou para limpar o nome da família. Uma morte dolorosa e lenta. Esse é um fato interessante à história do suicídio. Dependendo da tradição cultural e religiosa, pode ser considerado um pecado ou uma honra!

      Ainda assim, a concretização do suicídio continua a ser um problema. Como escreveu Goethe: "o suicídio é um ato próprio da natureza humana e, em cada época, precisa ser repensado." Então, pensando: será que o suicídio é desprovido de consequências? Nossa ignorância quanto ao post mortem torna essa dúvida um grande mistério. Para os que são adeptos de alguma religião, sua fé os guia para uma postura clara em relação ao suicídio. Mas, para um bright como eu, reina a suprema ignorância desprovida de fatos. Hamlet só piorou essa situação ao declamar:

"Ser ou não ser, eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
ou pegar em armas contra o mar de angústias -
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejavél. Morrer - dormir -
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo.
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar; e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas de amor do humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem aguentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte -
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante - nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos para outros que deconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação."


      Hum... mesmo sem saber quais as consequências do suicídio, essa idéia continua a ser "uma grande consolação" para os que vivem o jogo da vida!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma breve reflexão!


      Deixo mais uma conexão de pensamentos: "Um quarto sem livros é como um corpo sem alma". (Marco Túlio Cícero) ... "se houver uma alma". (Sherlock Holmes - Artur Conan Doyle).

As múltiplas faces do uno

      Adoro me aventurar por novas literaturas. Expande os horizontes das minhas percepções. Um amigo indicou O Lobo da Estepe de Hermann Hesse como sendo um livro indispensável para um bom leitor. Normalmente, eu pesquisaria um pouco sobre o escritor e sobre o livro antes de me aventurar na leitura, mas, quando se busca mudanças ou novos pontos de vista, é preciso se expor às contigências. É um daqueles momentos onde  não penso... tampo a respiração e me atiro na água. Depois, descobro se ela está fria demais ou se está agradável. Então, foi o que fiz! O fruto dessa aventura é tema deste post.


       No post anterior, destaquei uma passagem do livro Assim Falou Zaratustra de Nietzsche, onde o filósofo classifica o homem como "uma corda estendida entre o animal e o Super-homem". Essa é uma forma de ver um indivíduo. Não como um único ser, indivisível, mas como um ser dual. Uma criatura que oscila entre os instintos animais (que para mim são os mais elevados!) e os espirituais (do Super-homem). Alguns pensadores discordam desse filósofo em parte. O homem realmente não é uno, nem duo, mas múltiplo.

Ayahuasca (Banisteriopsis cooci)

      Esse pensamento estava perdido na minha memória e foi resultado de uma das minhas andanças literárias. Em um romance, A Viagem Interior de Francisco Boström, um guru ensina a seu discípulo como elevar suas percepções para planos além do mundo material. No processo de aprendizagem, o discípulo utiliza o Lumen (uma infusão da planta Ayahuasca que possui propriedades psicotrópicas e é, comumente, usada em cerimônias religiosas, como na União do Vegetal) e outros rituais para atingir esse objetivo. Um dos ensinamentos foi a aceitação do caráter múltiplos de cada ser. O ser não é sempre constante, único e indivísivel, mas composto por vários papéis que estão constantemente sujeitos a transformações. Para atingir a plenitude do uno é preciso viver os papéis que nosso ser quer interpretar. Seja o libertino, o rude, o gentil ou o apaixonado. Pois, nosso ser é múltiplo. Um reflexo das mútiplas faces do uno. Sou um naturalista ontológico, mas gostei desse ensinamento.


      Invoco Hamelet, personagem de Shakespeare, que ao se despedir do fantasma de seu pai e deparar-se com o terror de Horácio, proclama: "Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia". A forma como percebemos o mundo, como construimos nossas representações do mundo são limitadas por nossa mente. Entender alguns desses processos podem nos guiar para uma vida mais agradável e frutífera. Aqui, uso a filosofia como ponte para esses deleites. Aceitar nosso ser como múltiplo é um dos caminhos para a felicidade.

      No livro O Lobo da Estepe, o protagonista, Harry Haller, enfrenta esse dilema. Ele se divide em apenas dois: homem e "lobo". O homem é "um mundo de pensamentos, de sensações, de cultura, de natureza domada e sublimada" e o "lobo" é "um obscuro mundo de instintos, de selvageria e crueldade, de natureza bruta e insublimada". Em muitas situações, Harry enfrenta o dilema em se saber homem ou lobo, duas personagens opostas e conflitantes, e entra em uma profunda indecisão. Essa simplcação grotesca do seu ser o torna infeliz. "Pois não há um único ser humano, nem mesmo o negro primitivo, nem mesmo os idiotas, convenientemente simples, que possa ser explicado como a soma de dois ou três elementos principais; (...) Sua vida (como a vida de cada um dos homens) não oscila simplesmente entre dois pólos, tais como o corpo e o espírito, o santo e o libertino, mas entre mil, entre inumeráveis pólos". Então, talvez um dos caminhos da felicidade seja nos reconhermos como múltiplas faces de um uno. Essa é uma idéia interessante a se considerar!


      É sempre agradável quando minhas leituras se conectam e posso construir novos pensamentos! Isso só aumenta a minha satisfação em adentrar o universo imprevisível da literatura!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Leituta da semana...



"O homem é uma corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre o abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
(...)
Eu só amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, porque são eles que atravessam de um para o outro lado.
(...)
Amo os que não procuram por detrás das estrelas uma razão para sucumbir e oferecer-se em sacrifício, mas se sacrifcam pela terra, para que a terra pertença um dia ao Super-homem.

Amo o que vive para conhecer, e que quer conhecer, para que, uma dia, viva o Super-homem, porque assim quer ele sucumbir.
(...)
Amo aquele cuja alma transborda, a ponto de se esquecer de si mesmo e quanto esteja nele, porque assim todas as coisas se farão para sua ruína.

Amo o que tem o espírito e o coração livres, porque assim a sua cabeça apenas serve de entranhas ao seu coração, mas o seu coração o leva a sucumbir.

Amo todos os que são como gotas pesadas que caem uma a uma da nuvem escura suspensa sobre os homens, anunciam o relâmpago próximo e desaparecem como anunciadores.

Vede: eu sou um anúncio do raio e uma pesada gota procedente da nuvem; mas este raio chama-se o Super-homem."

E Assim Falou Zaratustra.

domingo, 18 de julho de 2010

Como dizia o poeta...



"Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores?"

(Vinícius de Morais)

Qual o real valor da vida?

      Acho uma confusão tentar entender qual o real valor da vida! Para mim, como biólogo, reconheço que a existência de todo e qualquer ser vivo é singular. Um momento ímpar de criação, onde um universo de possibilidades se combina para formar essa surpreendente coisa que chamamos vida. Mas, não consigo compreender se há algum valor real intrínseco a ela.

      Milhões de organismos morrem a todo o momento e outros milhões nascem concomitantemente. O que isso significa? Que aquela existência singular é apenas uma gota em um oceano de outras existências singulares? Se isso é verdade, então, qual o real valor disso? Há algum valor? Algo a se prezar? Não quero parecer niilista, apenas penso que essas dúvidas merecem respostas.


      Gosto de pensamentos simples e elegantes explicando coisas complexas, mas, às vezes, vejo que eles não são suficientes. Há a necessidade de um pensamento mais elaborado para responder algumas questões sobre a vida, como o seu real valor. Quero construir esse tipo de pensamento, mas sinto que o caminho a trilhar ainda é longo e que talvez não tenha um fim. Isso me anima! Grandes questões são a força motriz do pensamento!

      Tenho alguns questionamentos que me orientam na busca por respostas. Pergunto-me, como uma pessoa (serei antropocêntrico aqui!) atribui valor a sua vida? Muitos gostam de imaginar predestinações divinas, como se fossem superiores a todas as demais existências singulares. Não quero seguir por esse caminho, pois parece-me uma escolha pobre. Para ser sincero, acho que a vida não tem valor instrínseco algum. Penso que nós, enquanto seres conscientes (e incluo uma série de seres vivos nesse grupo), é que determinamos qual o valor de nossa existência. Podemos decidir, dentro de nossas limitações (culturais, ontogenéticas e filogenéticas), que valor nossas vidas realmente têm. Entretanto, há um sério problema nisso. Costumamos superestimar o valor de nossa existência. Dificilmente, um estuprador assumiria que sua vida tem menos valor que a de uma parteira (se é que realmente tem). Como podemos resolver esse problema?

      A grande resposta foi dada pelos existencialistas, com Jean Paul Sartre a frente: nós somos produto de nossas ações. Não é apenas decidir que valor minha vida tem, mas reconhecê-lo como um resultado das minhas ações. O valor da minha vida é um reflexo do valor das minhas ações. Pronto! Resolvido? Ainda não, temos outro problema: como medir o valor de nossas ações? Ao ser preso, o ex-goleiro do Flamengo que assassinou a ex-mulher apenas se lamentou por perder a chance de jogar na Copa de 2014. Para muitas pessoas, como eu, isso é abominável! Como alguém que destruiu uma existência singular não poderia reconhecer o peso dessa ação? Já que ele não parece capaz de fazer esse julgamento, quem será?

      A moralidade por si não parece suficiente para nos conduzir a uma vida agradável., nem para atribuir valor à vida. Ainda não sei como solucionar essa questão de forma geral. Apenas sei como solucioná-la para a minha vida. Valores, como amizade, respeito, amor, gentileza e paixão, guiam minhas ações e, quando eu as concretizo, sinto uma maior estima pela minha existência. Também penso que meu limite é machucar o próximo, mas, até mesmo machucar se torna relativo, dependendo do contexto.

      Como solucionar esses problemas? Eu não sei, mas, se um dia descobrir, terei prazer em compartilhar. Tudo o que posso fazer é continuar pensando e vivendo minha existência singular com outras, talvez de mesmo valor, ou talvez não.

Saudade...

"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido."
                                                                       Pablo Neruda

sábado, 17 de julho de 2010

Debates sobre Evolução - um momento interessante!!!

      Um amigo filósofo, o Eduardo, me convidou para participar de um cineclub, com debate ao final, sobre o filme O Ponto de Mutação, baseado na obra de mesmo nome de Fritjof Capra. Uma instigante discussão sobre a história do pensamento científico, suas construções e desconstruções, ressaltando o caráter renovador das verdades da ciência. É engraçado ver como o diretor, Bernt Amadeus Capra (provavelmente um parente do escritor!), brinca com os personagens da narrativa: um político (objetivo e prático), uma cientista (racional e idealista) e um poeta (sentimental e problemático). O Eduardo acrescentou uma análise interessante a essa bricadeira: na verdade, cada um dos três personagens são facetas de cada um de nós. Uma trindade que há na forma de pensar de cada sujeito. Gostei de ver a gratidão do peota e do político à cientista no final!!!!!

      Bem, contei essa história para dizer que fui convidado a ser o debatedor do mês de Julho do cineclub da ONG - A Cura do Planeta (http://www.acuradoplaneta.org/). O cineclub ocorre às quintas-feiras às 19h. Os filmes foram retirados da coleção Evolução - A Incrível Jornada da Vida da Scientific American. O cartaz de divulgação está no site.

      A ONG tem um espaço muito agradável e informal que permite uma excelente troca de idéias entre mentes inquietas. O endereço é Av. Sen. Virgílio Távora, 867, casa 58. Fica numa rua fechada ao lado dos correios. Basta apertar a campainha (é só puxar uma corda!) e dizer que veio participar do cineclub.


Todos os interessados são bem vindos!

Abração!