sábado, 17 de julho de 2010

O castigo do materialista impertinente...

     - Às vezes apanho-me a desejar ser também cego quanto às realidades àsperas da vida e só conhecer das suas ilusões. São falsas essas ilusões; falsísimas e contrárias à razão; mas, diante delas, a razão me cochicha - enganadoramente - que sonhar e viver na ilusão dá maiores deleites. E o deleite, afinal de contas, é a recompensa da vida. Sem deleites nada vale a vida. Trabalhar e viver sem recompensa, sem paga, é pior que a morte. Quem se deleita pela vida adentro vive mais - e seus sonhos e irrealidades perturbam-nos menos do que a mim me perturbam os fatos.

      E Larsen meneava a cabeça, ponderando.

      - Frequentemente duvido do valor da razão. Sonhos devem ser mais substanciais, mais gratos ao nosso imo. Os deleites emotivos superam os deleites intelectuais; além disso, a gente paga o deleite intelectual com o tédio, a tristeza azul. Já o deleite da emoção traz apenas o cansaço dos sentidos, que o descanso cura. Eu os invejo sim. (...)

      Parou de falar. (...) vi que a tristeza daquele homem era o castigo que todo materialista impertinente paga na terra."



(O Lobo do Mar de Jack London)

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