quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sobre o Suicídio

      "O suicídio é uma fuga ou um fracasso", disse o filósofo Jean Paul Sartre. Será? O suicídio é sempre algo ruim? Esse é um tema delicado de se tratar. Muitas religiões vêem o suicídio como um dos crimes mais hediôndos cometidos contra a vida. Na tradição judaico-cristã, essa é uma passagem direta para o inferno, sem direito à discussão no purgatório.

Os suicidas de Gustave Doré
      Em A Divina Comédia, Dante coloca os suicidas no sétimo círculo, dentro do segundo subcírculo, onde se encontra o Vale dos Suicidas. Condenados a viver na forma de árvores, são constantemente torturados pelas Hárpias. Estas criaturas, metade mulher, metade ave, arrancam pequenos pedaços daqueles que desprezaram o próprio corpo.

      Não concordo com essa visão tradicional do suicídio. A vida pode ser vista como um grande jogo, onde buscamos fazer bons trabalhos e nos divertirmos. Mas, quando tudo a nossa volta fica desprovido de significado, "a idéia do suicídio é uma grande consolação" (Nietzsche). Poder decidir quando será o Game Over é um grande privilégio. O filósofo Emil Cioran uma vez disse: "só vivo porque posso morrer quando quiser: sem a idéia do suicídio já teria me matado a muito tempo”.

Harakiri
      Em outras religiões, o suicídio não é visto como um ato pecaminoso. Para os antigos samurais, era visto como um ato de honra. O Harakiri, que significa corte estomacal, era um ritual usado para recuperar a honra do samurai ou para limpar o nome da família. Uma morte dolorosa e lenta. Esse é um fato interessante à história do suicídio. Dependendo da tradição cultural e religiosa, pode ser considerado um pecado ou uma honra!

      Ainda assim, a concretização do suicídio continua a ser um problema. Como escreveu Goethe: "o suicídio é um ato próprio da natureza humana e, em cada época, precisa ser repensado." Então, pensando: será que o suicídio é desprovido de consequências? Nossa ignorância quanto ao post mortem torna essa dúvida um grande mistério. Para os que são adeptos de alguma religião, sua fé os guia para uma postura clara em relação ao suicídio. Mas, para um bright como eu, reina a suprema ignorância desprovida de fatos. Hamlet só piorou essa situação ao declamar:

"Ser ou não ser, eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
ou pegar em armas contra o mar de angústias -
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejavél. Morrer - dormir -
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo.
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar; e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas de amor do humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem aguentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte -
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante - nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos para outros que deconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação."


      Hum... mesmo sem saber quais as consequências do suicídio, essa idéia continua a ser "uma grande consolação" para os que vivem o jogo da vida!

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