domingo, 18 de julho de 2010

Qual o real valor da vida?

      Acho uma confusão tentar entender qual o real valor da vida! Para mim, como biólogo, reconheço que a existência de todo e qualquer ser vivo é singular. Um momento ímpar de criação, onde um universo de possibilidades se combina para formar essa surpreendente coisa que chamamos vida. Mas, não consigo compreender se há algum valor real intrínseco a ela.

      Milhões de organismos morrem a todo o momento e outros milhões nascem concomitantemente. O que isso significa? Que aquela existência singular é apenas uma gota em um oceano de outras existências singulares? Se isso é verdade, então, qual o real valor disso? Há algum valor? Algo a se prezar? Não quero parecer niilista, apenas penso que essas dúvidas merecem respostas.


      Gosto de pensamentos simples e elegantes explicando coisas complexas, mas, às vezes, vejo que eles não são suficientes. Há a necessidade de um pensamento mais elaborado para responder algumas questões sobre a vida, como o seu real valor. Quero construir esse tipo de pensamento, mas sinto que o caminho a trilhar ainda é longo e que talvez não tenha um fim. Isso me anima! Grandes questões são a força motriz do pensamento!

      Tenho alguns questionamentos que me orientam na busca por respostas. Pergunto-me, como uma pessoa (serei antropocêntrico aqui!) atribui valor a sua vida? Muitos gostam de imaginar predestinações divinas, como se fossem superiores a todas as demais existências singulares. Não quero seguir por esse caminho, pois parece-me uma escolha pobre. Para ser sincero, acho que a vida não tem valor instrínseco algum. Penso que nós, enquanto seres conscientes (e incluo uma série de seres vivos nesse grupo), é que determinamos qual o valor de nossa existência. Podemos decidir, dentro de nossas limitações (culturais, ontogenéticas e filogenéticas), que valor nossas vidas realmente têm. Entretanto, há um sério problema nisso. Costumamos superestimar o valor de nossa existência. Dificilmente, um estuprador assumiria que sua vida tem menos valor que a de uma parteira (se é que realmente tem). Como podemos resolver esse problema?

      A grande resposta foi dada pelos existencialistas, com Jean Paul Sartre a frente: nós somos produto de nossas ações. Não é apenas decidir que valor minha vida tem, mas reconhecê-lo como um resultado das minhas ações. O valor da minha vida é um reflexo do valor das minhas ações. Pronto! Resolvido? Ainda não, temos outro problema: como medir o valor de nossas ações? Ao ser preso, o ex-goleiro do Flamengo que assassinou a ex-mulher apenas se lamentou por perder a chance de jogar na Copa de 2014. Para muitas pessoas, como eu, isso é abominável! Como alguém que destruiu uma existência singular não poderia reconhecer o peso dessa ação? Já que ele não parece capaz de fazer esse julgamento, quem será?

      A moralidade por si não parece suficiente para nos conduzir a uma vida agradável., nem para atribuir valor à vida. Ainda não sei como solucionar essa questão de forma geral. Apenas sei como solucioná-la para a minha vida. Valores, como amizade, respeito, amor, gentileza e paixão, guiam minhas ações e, quando eu as concretizo, sinto uma maior estima pela minha existência. Também penso que meu limite é machucar o próximo, mas, até mesmo machucar se torna relativo, dependendo do contexto.

      Como solucionar esses problemas? Eu não sei, mas, se um dia descobrir, terei prazer em compartilhar. Tudo o que posso fazer é continuar pensando e vivendo minha existência singular com outras, talvez de mesmo valor, ou talvez não.

3 comentários:

  1. Oi Rafael,
    Em primeiro lugar, penso que antes de se determinar se a vida (como vida individual, não o fenômeno "vida") tem ou não valor é preciso definir o que é valor, e essa não é uma tarefa simples (veja o "Menon" de platão...).
    Além disso, mesmo que se suponha que a vida individual tem valor, se defendemos que todas as formas de vida têm igual valor o resultado prático disso seria o mesmo de elas não terem valor nenhum.
    Para mim, as vidas individuais não têm valor, sendo contingências. Contudo, penso que elas têm "significado": a vida têm significação para aqueles que a experimentam, isso é, os seres viventes. Dessa forma, a significação da vida é um fenômeno subjetivo, mas que pode ser objetivamente estudado, compreendido e respeitado. Por isso e por outras razões sou utilitarista.
    Grande abraço.

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  2. Obrigado pelo comentário, Gerardo. Foi bastante esclarecedor! Acho que confundi valor e significação. Usei estas palavras como sinônimos. Também acho que as vidas sejam contingências e que a significação seja subjetiva. E, por ser subjetiva, é problemática. Não acho que possamos compreendê-la e respeitá-la objetivamente, mas, subjetivamente. Pense: quem seria apto a qualificar a vida? Vc mesmo? Uma sociedade? Um juiz? Que padrões usaríamos para significá-la? São essas questões que aparecem como conflitos para mim.

    Abração!

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  3. André Azevedo Costa25 de julho de 2010 às 14:07

    Profundas reflexões que quase todos que entram no barco de se perguntar o "valor","sentido" ou "significado" da sua vida( ou de suas ações) ou da dos outros acabam por entrar nesta tempestade confusa que pode até mesmo acabar sem resposta alguma. Alguns se esforçam de mais para que a vida seja completa demais de sentido, o que pra mim é uma grande ilusão.Prefiro que minhas ações, que caracterizam minha vida, sejam complexas e repletas de significado, e tal "valor", deixa que a subjetividade minha e alheia resolva. A subjetividade parece ser um andar em uma corda bamba, mas por não ter sentido, e sim significado, acabo dando muitas risadas por continuar caminhando sem saber onde chegar.
    Ótimo blog. Abraços Rafael!

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